Nasci aqui em Recife, filha de uma mãe muito jovem e hippie, mas que trabalhava e não fumava maconha, e de um pai que trabalhava muito e que jurava que era hippie, mas foi só uma fase. Minha mãe me teve aos 20 anos e pra nos sustentar fazia e vendia roupas tingidas em feiras de rua do Recife Antigo, de Boa Viagem e de Olinda. Nunca foi casada com o meu pai. Até hoje é assim. Meu pai casou-se e teve outra filha, minha irmã do meio, Nathália.
Quando eu tinha 4 anos, minha mamis foi para Portugal tentar qualquer coisa melhor do que o que tinhamos aqui, que era realmente muito pouco, aproveitando que um irmão mais velho dela tinha ido pra lá poucos anos antes. Eu fui para Portugal quando tinha 5 anos e quando cheguei na terrinha lusitana, mamis estava grávida da minha irmã mais nova, Aimara e casada com um alemão hippie que fazia mandalas e vendia na rua. Tudo muito Woodstock-way-of-life.
Ser pobre no Brasil é completamente diferente de ser pobre na europa, e digo logo que não tem glamour nenhum nisso. Então todas as roupas que eu e Aimara usavamos eram doadas por vizinhas caridosas ou simplesmente herdadas das primas alemãs da minha irmã. As minhas fotos de infância são cômico-trágicas. Eu consigo morrer de rir. Eram roupas gigantes, ensacadas dentro das calças, botas de plástico, casacos com mangas arregaçadas de tão grandes.
Roupa nova não existia e talvez, inconscientemente, foi daí que nasceu todo o meu fascínio pela moda, consequência da total privação de estética na minha infância.
Minha mãe continuou em Portugal o que já fazia aqui. Vendendo roupas tingidas em feiras de rua e feiras de artesanato. Aos poucos, mas muito aos poucos mesmo, as coisas foram melhorando. Acho que só com uns 13 anos é que experimentei pela primeira vez a sensação de comprar alguma coisa numa loja de shopping em vez de uma feira de sulanca. E com o meu próprio dinheiro, já que eu comecei a trabalhar cedo com mamãe.
Passei por todos os estilos na adolescência: punk, gótica, nerd (eu era nerd por essência mesmo), freak, qualquer loucura que justificasse eu pintar o cabelo de todas as cores. Mamis sempre dizia que eu estava linda. E é assim até hoje.
Um dia, com quase 19 anos, mamis falou que iríamos voltar para o Brasil.
O PRESENTE
Voltamos.
Passei num vestibular de publicidade e propaganda, me acostumei a comer cuzcuz e tapioca e depois de um ano de Brasil, mamãe e Aimara retornaram a Portugal e estão lá até hoje. Minha vida mudou bastante desde 2004 até agora. Passei quase 7 anos em Recife, estudando e trabalhando (sou publicitária) e recentemente me mudei para o Rio de Janeiro onde moro só. A vida de nômade me acompanha. Só voltei a Portugal uma única vez, nestes 8 anos, para visitar a família, mas vejo minha mãe e minha irmã bem menos do que eu gostaria. Hoje tenho 26 anos e estou finalmente atualizando esta página do blog.
O BLOG
O blog nasceu de uma paixão pela moda que eu tenho desde sempre. Por todos esses motivos e por toda essa experiência. Portugal é o lugar mais lindo que eu já vi, e eu sempre quis fazer parte disso e combinar com a foto, mas sempre foi difícil. Agora, anos mais velha, posso vestir o que gosto e com o meu próprio dinheiro e isso é incrível, mesmo não sendo lá. O que visto não depende necessariamente da moda (apesar de eu gostar de testar quase tudo), mas muito mais do meu estado de espírito do dia. O blog é só uma consequência dessa jornada. : )
beijos, Carols